Cardiologista
HPA Magazine 11
Uma das áreas que mais se desenvolveu nos últimos anos na medicina foram os meios ou exames complementares de diagnóstico. São definitivamente “as armas” determinantes para a precisão e o rigor do diagnóstico, mas também do tratamento. A partir desta edição iremos disponibilizar informação que permita aos nossos leitores esclarecer e conhecer melhor alguns exames complementares, permitindo que fiquem mais confiantes e também mais colaborantes na altura de os efetuarem. Comecemos pelo coração.
Trata-se de um exame que utiliza ultrassons para obter imagens em tempo real do coração e dos maiores vasos sanguíneos. O seu pedido tem a ver com a avaliação médica a que previamente foi sujeito.
Para que serve?
Permite avaliar alterações morfológicas e funcionais das câmaras cardíacas, válvulas, vasos e estruturas próximas do coração, quando este se encontra em repouso (o exame completo envolve as técnicas 2D e Doppler e, eventualmente “M-Mode”). Se for considerado necessário e for tecnicamente possível (nem sempre o é), será realizada uma análise com tecnologia Strain (avaliação da deformidade miocárdica).
Um profissional capacitado irá utilizar um ecocardiógrafo para colher as imagens necessárias. É utilizado um gel para conseguir obter essas imagens (este é à base de água e é hipoalergénico). Ser-lhe-ão colocados elétrodos para monitorizar a atividade elétrica do coração para correlação com as imagens colhidas. Ser-lhe-á pedido que se coloque em tronco nu e se movimente em várias posições de modo a serem obtidas as melhores imagens. O exame é realizado numa área específica, otimizada para a sua privacidade e para a adequada colheita de imagens. O exame em si é indolor e não invasivo. O ecocardiograma transtorácico atual requer a utilização de tecnologia Doppler (mapeamento do fluxo sanguíneo, possibilitando por exemplo determinar a sua velocidade) para se obter toda a informação adequada.
É variável em função do motivo do pedido e do que vai sendo encontrado no exame. Um ecocardiograma transtorácico completo requer duas fases: a recolha de imagens e a realização do relatório. A fase de recolha de imagens em si poderá demorar de 15 a 60 minutos, de acordo com a complexidade do caso.
O Ecocardiograma Transesofágico (ETE) é um exame no qual imagens do coração são obtidas por meio de uma sonda de ultrassom especial, a qual é introduzida pela boca, dentro do esófago (estrutura em forma de tubo e por onde passam os alimentos) e sob sedação. No ETE a sonda é capaz de visualizar melhor determinadas partes do coração. O procedimento completo dura cerca de uma hora. Contudo, habitualmente a sonda de ultrassom só permanecerá inserida aproximadamente 10 a 15 minutos.
O procedimento é realizado por uma equipa composta por cardiologista, enfermeiro e técnico de cardiopneumologia.
Deverá informar os profissionais se tiver alguma doença do esófago, se já foi operado ou fez algum tratamento a essa zona ou ainda se tem dificuldade em engolir. Deverá também referir se tiver alguma alergia, alguma anomalia da coagulação ou se estiver a tomar medicamentos anticoagulantes. É fundamental que esteja em jejum (líquidos e sólidos) durante pelo menos 6 horas antes do procedimento. Ser-lhe-á também pedido que remova da boca qualquer prótese ou dispositivo móvel dentário, imediatamente antes do início do procedimento.
É imprescindível que dê o seu consentimento informado (sem este documento assinado o exame não será realizado) e, aceitando realizá-lo, é necessário também que informe a equipa da presença de alguma das situações descritas.
Durante todo o procedimento os seus sinais vitais serão monitorizados (nível de oxigénio, pressão sanguínea e reação aos medicamentos).
Ser-lhe-á introduzido um tubo intravenoso no braço (que não é doloroso), por onde será administrado um sedativo para ajudá-lo a relaxar.
A sua garganta será anestesiada com um spray especial. Deverá engolir este líquido e não engolir mais saliva a partir deste momento, pelo risco de engasgamento. A exceção será na altura em que o médico lhe pedir para engolir.
Um pequeno protetor de plástico será colocado entre os seus dentes, através do qual a sonda será introduzida, sendo-lhe pedido que se deite do lado esquerdo do corpo para a realização do procedimento.
A sonda será introduzida pela boca, dentro do esófago, até chegar exatamente atrás do coração (deverá colaborar na passagem da sonda e quando o médico o solicitar, “engolir”). Imagens por ultrassom do coração, das válvulas cardíacas e do fluxo de sangue serão então obtidas e registadas.
Segundo as imagens que vão sendo obtidas, poderá ser necessário que realize determinadas manobras, que por sua vez lhe serão explicadas.
Os efeitos da sedação desaparecem geralmente no prazo de poucas horas. Os riscos associados à realização de um ETE são raros, mas existem. Durante alguns dias depois do exame pode notar algum incómodo na garganta (garganta "arranhada", rouquidão) associado à passagem da sonda. Entre os riscos raros possíveis incluem-se também processos inflamatórios/infeciosos, perfuração do esófago, hemorragias esofágicas, arritmias cardíacas e excecionalmente situações fatais.
Não poderá comer ou beber seja o que for durante cerca de duas horas depois do procedimento, pois a sua garganta ainda poderá estar anestesiada.
Não poderá conduzir durante o resto do dia, sendo recomendável que não assine documentos legais no dia do exame.
Será necessário providenciar que alguém o leve para casa depois do procedimento, pois é possível que se sinta entorpecido por causa do sedativo.
O relatório do exame ser-lhe-á disponibilizado posteriormente, após a análise das imagens.